28/08/2024 às 07h45min - Atualizada em 28/08/2024 às 07h36min

Flutuações dos preços da gasolina e os efeitos no orçamento das famílias brasileiras

Escrito por: *Bruno Jose Bezerra Silva. Doutorando em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro do Laboratório de Inteligência Artificial e Macroeconomia Computacional (LABIMEC).

LABIMEC

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A coluna "Radar Econômico" compartilha análises e reflexões sobre o cenário econômico atual, escritos por pesquisadores do LABIMEC da UFPB

Bruno Jose Bezerra Silva
Foto: Agência Brasil
Nos últimos anos, os preços dos combustíveis têm sido uma fonte constante de preocupação para os brasileiros. Essa apreensão decorre das sucessivas elevações nos preços praticados nas bombas dos postos, que, por vezes, ocorrem de maneira repentina. De antemão, destaca-se que, além de afetar diretamente os consumidores, essas mudanças também impactam a economia como um todo, pois elevam os custos de produção e transporte de mercadorias. Neste texto, destacam-se as variações nos preços desse produto tão importante e seus efeitos econômicos no orçamento das famílias.

Considerando os dados do levantamento de preços realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), percebe-se que o preço médio de revenda da gasolina comum no Brasil foi de R$ 6,04 no mês de julho, representando um aumento de 7,66% nos últimos doze meses. Notavelmente, essa elevação gera consequências no cotidiano dos brasileiros, pois afeta a inflação, uma vez que o transporte a combustão é um componente essencial na cadeia de produção e distribuição de produtos, além de impactar a locomoção das pessoas.

Seguindo essa linha de raciocínio, afirma-se que a elevação nos preços dos combustíveis deve ter um impacto direto no custo do transporte, o que, por sua vez, aumenta o custo de bens e serviços. Esse efeito pode impulsionar a inflação e resultar na perda de poder de compra das famílias. Consequentemente, pode haver uma redução no consumo discricionário, um aumento da insegurança alimentar e um impacto negativo na geração de emprego e renda. Esses efeitos ocorrem porque o combustível é um bem intermediário, com capacidade de gerar múltiplas consequências ao longo da cadeia produtiva.

Continuando nessa abordagem, pode-se exemplificar utilizando dados de estudos realizados pela Webmotors e pelo Ministério da Fazenda, considerando três informações: i) carros de passeio com motor a combustão geralmente possuem um tanque de combustível com capacidade de 55 litros; ii) as famílias têm uma renda de dois salários mínimos, totalizando R$ 2.824 mensais; e iii) as pessoas abastecem o carro duas vezes por mês. Dito isso, pode-se afirmar que os consumidores terão que desembolsar R$ 664,40, representando 23,5% do orçamento das famílias. Nesse contexto, o aumento significativo no preço da gasolina pode reduzir o consumo de outros produtos e serviços pelos cidadãos, especialmente daqueles que dependem do transporte para seu sustento (taxistas, motoristas de aplicativo, entre outros).

No Nordeste, o preço médio de revenda da gasolina comum foi de R$ 6,16 no sétimo mês do ano, o que representa um aumento de 7,88% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse aumento também pode ser visto em outras regiões do país, porque no Centro-Oeste ocorreu uma elevação de 8,93%; no Norte, o preço aumentou 7,63%; no Sudeste, a alta foi de 8,27%; e no Sul, registrou-se um acréscimo de 7,01%. Em comparação com os dados nacionais, o aumento do preço da gasolina comum no Nordeste (7,88%) está abaixo da média nacional, que foi de 7,94%.

É importante mencionar, no entanto, que há divergências na magnitude das alterações nos preços entre os estados do Nordeste. Dentre as nove unidades da federação, o Ceará (CE) apresentou o menor percentual de variação (5,57%), enquanto o Rio Grande do Norte (RN) registrou a maior modificação, com um aumento de 12,82%. A Paraíba (PB), por sua vez, apresentou uma alta de 9,6%. Na análise das capitais, observa-se um cenário similar e esperado: Fortaleza (CE) registrou o menor preço médio entre os estados do Nordeste, com um aumento de 4,02%, enquanto Natal (RN) apresentou o maior preço médio, com uma elevação de 14,06%. João Pessoa (PB) registrou um aumento de 12,08% nos preços nos últimos doze meses.

Diante do exposto, ressalta-se que essas elevações constantes e repentinas nos preços dos combustíveis são motivo de preocupação para milhões de brasileiros. Portanto, é necessário implementar políticas que garantam a coerência na comunicação ao público, com justificativas plausíveis aos consumidores e respeito ao calendário. Dessa forma, os responsáveis pelos postos de combustíveis não devem alterar os preços quase simultaneamente ao anúncio de modificações e antes de esgotarem seus estoques. Entretanto, esse processo deve ser realizado com diálogo, transparência e conforme as leis brasileiras, para evitar gerar alvoroço e pânico entre empresários e investidores.

Quanto ao consumidor, é importante reforçar o planejamento financeiro familiar, priorizando as despesas essenciais, construindo uma boa reserva de emergência e buscando meios de transporte mais acessíveis, como bicicleta ou moto. Além disso, é essencial monitorar as variações de preços e readequar o orçamento conforme necessário. É importante ressaltar que esse processo é pessoal, e cada família deve avaliar suas próprias necessidades e colaborar de maneira mútua para encontrar a melhor alternativa que equilibre a contenção de gastos e o bem-estar das pessoas.

Conheça o autor

*Bruno Jose Bezerra Silva é doutorando em economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro do Laboratório de Inteligência Artificial e Macroeconomia  Computacional (LABIMEC). Mestrado em Economia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Especialização em Gestão Pública pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). 

Desde 2016 vem publicando diversos artigos científicos em revistas e congressos nacionais e internacionais, sobretudo nas áreas de finanças, econometria e macroeconomia. No âmbito de mercado profissional, carrega experiência no setor privado e público, especialmente sobre atividades de elaboração e análise de indicadores econômicos.
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